sábado, 4 de outubro de 2014

Formação estética na Biblioteca Pública "Norberto Cândido Silveira Júnior".



"O que mais favorece o desenvolvimento estético é a exposição, a frequência à arte". (NEITZEL, p. 96-97).


Oi gente, tudo bem como vocês? Bora sacudir a poeira por essas bandas com uma notícia boa! Espia só...
Na última quinta-feira, levei a turma do quinto ano do ensino fundamental para visitar a Biblioteca Pública de Itajaí "Norberto Cândido Silveira Júnior". Com o objetivo de formação estética e intercâmbio cultural, participamos de diversas atividades no local e em seu entorno. Fomos muito tão bem recebidos e acomodados que deu gosto! Desde o início nos colocaram no auditório para apreciarmos “Contações de histórias” promovidas pela equipe de artistas/professores da instituição. Na sequência, assistimos a documentários e palestras que nos contaram não só a história da formação da biblioteca, como também da cidade e região, muito importante para nos entendermos enquanto cidadãos do Vale do Itajaí - SC. Depois tivemos o momento da “Roda de Leitura Monitorada” com a deliciosa surpresa de “Tablets” para podermos entrar em contato com o E-book (livro digital), além de termos como auxílio um profissional qualificado nos instruindo sobre este e outros assuntos.




 Logo após, fizemos um passeio monitorado por toda a biblioteca, vimos os livros, fomos apresentados ao sistema de pesquisa e cadastramento digital e também conhecemos os “bastidores” ao adentrarmos no setor administrativo do ambiente. Fiquei muito feliz quando os alunos chamaram-me para conhecer a seção de minha escritora favorita: Clarice Lispector! (Mesmo eles não tendo lido nenhuma obra dela ainda, eles perceberam pela falas amorosas que solto dessa amada escritora e vieram correndo me contar!). Depois, conhecemos a equipe que organiza a entrada, coleta, demarcação, restauração e avaliação dos livros e, além de tudo, tivemos a oportunidade de dialogarmos e aprender muito com uma pessoa formada em biblioteconomia. Em meio a tantas obras maravilhosas, o jeito foi separarmos um tempo para mais leituras, dessa vez entre os livros físicos (inclusive em braille!). Por fim, visitamos a parte central da Prefeitura de Itajaí para apreciarmos uma exposição de artes visuais de outras escolas ali expostas. Voltamos para a escola com um “gostinho de quero mais”, pois existiam tantas coisas para experienciarmos que mal vimos o tempo passar, mas com certeza de que essas atividades permanecerão em nossas memórias, principalmente estimulando o prazer da leitura.



Agora, as fotos... porque bons momentos precisam de registro!         

A partida...

Contação de histórias.

Contação de histórias, adoramos!

Roda de leitura monitorada com E-books!

Contação de histórias...

Conhecendo obras em "braille".

Pose para a foto!

Instruindo para a funcionalidade do Tablet.

Foto com a Bibliotecária!

Meninas apreciando as artes dos outros alunos...

Apreciando as obras das outras escolas!

Mediando a observação e levantando expressões dos alunos...

Por fim, tiramos uma foto no mural que fica na frente da biblioteca!
 
Professor Bruno

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Literatura: comida material da alma

“pelo sumo das laranjas no ar e bicicletas,
Em meu país de memória e sentimento,
Basta fechar os olhos;
É domingo, é domingo, é domingo”.
Adélia Prado, “Para comer depois” em Bagagem, 1976.

A representação do alimento parece-me apropriada para costurar certos pontos das analogias sendo que comemos também da leitura: devoramos livros quando estamos com fome, salivamos ao contato de uma cena. Na malha de emoções e lembranças sensoriais da infância que nunca nos abandona é que recordamos algumas dessas representações alimentares como componentes de muitas narrativas já incorporadas no inconsciente coletivo: a cesta que a Chapeuzinho Vermelho (azul, cor-de-abóbora, amarelo...) leva para sua vovó, os feijões mágicos em João e o pé de feijão ou ainda o mingau em Cachinhos dourados e os três ursos. Percebido isto, partimos do pressuposto de COSSON (2011, p. 40) cujo pensamento afirma que “aprender a ler é mais do que adquirir uma habilidade, e ser leitor vai além de possuir um hábito ou atividade regular” para experienciar práticas de leituras mediadas nas relações humanas em torno de um dos espaços mais afetivos que há: a mesa. Surgiu aí a promoção de um “Chá literário” com as turmas do maternal e nível I e "Conversas Doces" com o nível II e o primeiro ano do ensino fundamental.
Fonte: http://www.huffingtonpost.ca/2012/11/13/coffee-table-books_n_2123931.html
Anteriormente selecionei duas obras para contação: “Menina bonita do laço de fita” de Ana Maria Machado com ilustrações de Claudius e “Os três lobinhos e o porco mau” de Eugene Trivizas com ilustrações de Helen Oxenbury. A primeira obra, conta a história de um coelho branco que sonhava em ter uma filha pretinha, assim acompanhamos suas aventuras e peripécias com a menina para descobrir o segredo para o sucesso dessa empreitada. A segunda obra, inverte os sabidos papéis do lobo mau e dos porquinhos, satirizando elementos atuais para reinventar a história.


Foto: Detalhe das capas dos livros.
Familiarizado com as narrativas, apresentei e efetuei a leitura com observações das ilustrações para as crianças. No segundo momento os convidei para um chá literário com Os três lobinhos e o porco mau (ensino infantil) e para conversas doces o primeiro ano do ensino fundamental ao lado da Menina bonita do laço de fita. Pretexto para compartilharmos impressões de leitura, interpretação de mundo, manifestações de opiniões e partilharmos dos dois tipos de alimento em mesa: o físico, a comida propriamente dita e o espiritual, a literatura (no caso, aqui a digestão). Mas que tipo de alimento ofertar? Bem, na história dos três lobinhos o chá e frutas são adorados pelo trio (depois pelo porco redimido) e posteriormente por nós (rsrs). Na história da Ana Maria, o coelhinho toma muito café e come muita jabuticaba... mas infelizmente o excesso não o fez nada bem. Por isso decidimos fazer algo mais doce e tradicional brasileiro: o brigadeiro!

Foto: No detalhe eu e a profe Ane com as crianças.                                                                                                Fonte: Pessoal.
Foto: 1. Com a profe Roberta fazendo o brigadeiro. 2. Flagra da Morgana admirando os copinhos sendo recheados de brigadeiro! rsrs                                                                                                                                                          Fonte: pessoal.
Foto: Com a professora Débora e a turminha do Nível II!                                                                                       Fonte: Pessoal.
Foto: Posando para a foto depois do Chá literário com a professora Lassara e a turminha do nível I.
Fonte: Pessoal.
O comer é um ritual mágico. Comer é o impulso mais primitivo do corpo. Preparamos os chás de flores e cortamos as frutas (vermelhas) com as crianças. Sentimos o cheiro de a flor brotar na água (rosas? camélias? cravos?), provamos o doce gosto do morango, da maça... Com leite condensado também pode!!! Delícia. Todo o processo ascendendo os cinco sentidos, no entanto sem perder nenhuma fala das crianças: “os lobinhos tinham razão”, “os lobinhos tomaram este? Eu também tomo”, “quando eu era ‘pequenininho’ minha mãe me dava chá também”. Nasce daí a primeira filosofia, sumo de todas as outras: o mundo é para ser comido. História e literatura são para serem comidas. “Sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e lutas”, escreveu Neruda.







As crianças acompanharam e ajudaram em todo o processo do brigadeiro rente ao fogão. A homogeneização do leite condensado com o chocolate e a manteiga, a apuração do ponto e a acomodação nos copinhos. Saiu um brigadeiro quente, cheiroso e grosso. O gosto era doce, caseiro, como as receitas tradicionais de casa.  Ao final, algumas crianças repetiam que o segredo da menina bonita do laço de fita pra ser tão pretinha e bonita (além das “artes de sua avó”) era ter uma mãe como cozinheira de mão cheia. Depois as crianças levaram seus brigadeiros para as famílias provarem também e finalizamos o encontro extasiados com estas duas artes, Literatura e Culinária.

Foto: Detalhe da cena do chá em "Alice no país das maravilhas" \o/
Abraços, Bruno.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O prazer da leitura: encontros com Lobato

“Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum” (Monteiro Lobato)

As crianças que compõem o quarto e quinto ano do Ensino Fundamental do Colégio Atlântico receberam a obra “O pica-pau amarelo” de Monteiro Lobato. Trata-se de um esforço e apoio de todos os profissionais educadores da instituição para com esta ação de incentivo à leitura literária! Por meio da leitura, a criança desenvolve a criatividade, a imaginação, adquire cultura, conhecimentos e desenvolve o repertório: ler é um ato valioso para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. É uma forma de ter acesso às informações e, com elas, buscar melhorias para você e para o outro. Os estudos da obra de Lobato acontecem em encontros de Literatura , comigo (toda terça-feira) e de língua portuguesa com a professora Margarida (toda quinta-feira). Ao longo dos encontros e leituras, vou atualizando as novidades aqui no blog! ;)
Confiram algumas das fotos da estrega, que contou também, com uma breve motivação para a leitura:

Detalhe da entrega das obras!

Caixa cheia de livros lindos para serem entregues.

Momento em sala de aula.



Trecho de um dos filmes do Mazzaroppi (costuras com o "Jeca Tatu", personagem clássico de Lobato).



Concentrados...




















Abraços, professor Bruno.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Andanças literárias



A história do “Amigo orgulhoso” (Aurora Ferreira) tem como protagonista um Pavão muito vaidoso. Além, disso tem todos os outros elementos de uma boa receita de conto de fadas: muitos bichos (cada qual com a sua personalidade) e claro, uma fada bondosa. Papo vai, papo vem até que ao final nosso herói descobre que “não é a beleza que importa e, sim, o que se tem no coração”. Ok, bom? Bom. E se agora, subvertermos a ordem? A ordem dos sentidos.
Começou assim:
• após contar a história para as crianças, conversei sobre ela: quais as impressões ao escutar? Mudariam alguma coisa? Gostou de qual trecho? E qual trecho desgostou? Etc.
• na sequência, coloquei os holofotes nas fadas: O que pensam sobre isso?já viram alguma mágica? (“Minha mãe me contou que Mágica é a lagarta virar borboleta, professor Bruno...” Ok, criança tem esse poder de nos desestabilizar né? E parabéns para a mamãe!)
• para dar continuidade ofereci que confeccionássemos nossos personagens para brincarmos (sabe quando você era criança e brincava de boneco(a)? Podia ser com seus amigos(as) também? Eu pelo menos brincava e inventava um monte de histórias... Isso me dava forças e mostrava a capacidade das narrativas de nos ajudar a dizer o mundo e a nos dizer a nós mesmos).
• Após a montagem dos personagens, foi o momento de brincarmos de fabular!
Alguns personagens...



Crianças no momento de contação de histórias...

De repente, o livro assumiu lugar de destaque!

;-)

E foi tão divertido! Textos orais desenvolvidos ao sabor do acaso pelas crianças, suscitam nosso imaginário! Pudemos descobrir outros lugares (cada um ambientava do seu jeito), pudemos sentir emoções variadas como tristeza, alegria ou surpresa. Nessa troca de encantamentos, evitaram-se as descrições imensas e cheias de detalhes, pois a simplicidade e a beleza deram as cartas. Eu, na posição de “mediador/professor” acabei saindo de cena e me tornei mais uma criança, um amigo com quem brincar. Os sentidos saíram do túmulo onde os deveres os enterraram. “Corpo de criança, corpo brincante: é nele que acontece a alegria!” nos diria Rubem Alves e concordo pois, tudo nos convidou a não pensar. A só rir, aproveitar, fruir.
 Espia só um bocadinho:



Isso possibilitou que entendêssemos que os sentidos do texto artístico não são fornecidos apenas pelas palavras escritas, mas também pelo modo como são organizados. Além do mais, a inserção do texto dentro do seu contexto determinou que a leitura feita depois fosse enriquecida com esses elementos extratextuais, ganhando, assim, uma perspectiva mais abrangente.
"Gif" para simbolizar que logo abaixo, estarei mudando de assunto... virando a página! rsrs

Gostamos sempre de ter um tempinho para ler. Às vezes, acompanhado por músicas ou ainda, cantamos. Desta vez a apreciação poética se deu pelas canções “Azul da cor do mar” de Tim Maia e “Andanças” de Beth Carvalho. Primeiramente distribui as letras impressas para cada aluno efetuar a leitura para si e em seguida os puxei para, juntos e em voz alta, declamarmos. Na sequência, organizei-os na sala com postura para cantarmos juntos. Neste ato, os rostos revelam o mundo!

5º ano.

4º ano.

3º ano.

2º ano B.
Posteriormente a fruição poética, abri a roda para conversa, pois é preciso saber se gostaram ou não do que foi vivenciado, se concordou ou não com o que foi contado... Disseram-me que estava tudo bonito. Foi então que, juntos analisamos a letra no objetivo de trocar apreciações individuais sobre cada texto. Segue as letras para apreciação:
Detalhe das letras...


Observe um trechinho: 



 Por fim, democraticamente, escolheu-se que efetuássemos um desenho pu frases atrás da poesia (enquanto ouviríamos as respectivas músicas) para presentear alguém querido da criança (pai, mãe, tia, irmão, amigo, amiga...). Isso surgiu por dois motivos das próprias poesias: “E JAMAIS TERMINA/ MEU CAMINHAR/ SÓ O AMOR ME ENSINA/ ONDE VOU CHEGAR (POR ONDE FOR QUERO SER SEU PAR)” versos de Andanças (ouça clicando aqui), do qual serviram de inspiração para desenharmos caminhos, estradas, destinos com cores e adicionarmos a pessoa amada & “VER NA VIDA ALGUM MOTIVO/ PRA SONHAR/ TER UM SONHO TODO AZUL/ AZUL DA COR DO MAR”, versos do Tim Maia (ouça clicando aqui), onde as crianças queriam escrever/desenhar mensagens para presentear a pessoa querida com motivos para sonhar. Coisas extremamente simples acham um lugar imortal no coração.






Esconde sob a aparência de simplicidade todas as implicações contidas no ato de ler e de ser letrado. É tão importante a leitura do texto literário quanto às expressões e respostas que criamos para ele. As práticas de sala de aula precisam contemplar o processo de letramento literário e não apenas a mera leitura das obras. Estes movimentos foram esforços para uma apreciação divertida na qual eu aprendo tanto quanto ensino nesses rituais mágicos que permeiam a leitura.



Abraços, prof. Bruno.