segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Poemas estendidos no varal




Tendo como referência a obra de Rildo Cosson “Letramento Literário: teoria e prática” (2006) planejei está noite a fim de fomentar as discussões acerca da prática de se levar a leitura literária para a sala de aula. E não menos importante, nos encharcarmos de muita poesia com o grupo Clube do Livro Atlântico. Para inicio de conversa, sempre há o momento musical. Momento este que apreciamos músicas de artistas brasileiros que tem conteúdo em suas letras e melodias. É a bela fusão da arte entre letra e som, neste caso, de dois dos maiores expoentes da música brasileira: Chico Buarque e Caetano Veloso. A apreciar: 



Você Não Entende Nada

Caetano Veloso
Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Com lágrimas nos olhos de cortar cebola
Você é tão bonita
Você traz a Coca-Cola, eu tomo
Você bota a mesa, eu como
Eu como, eu como, eu como, eu como
Você
Não tá entendendo quase nada do que eu digo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo

Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo neste apartamento
Você não acredita
Traz meu café com Suita, eu tomo
Bota a sobremesa, eu como
Eu como, eu como, eu como, eu como
Você
Tem que saber que eu quero é correr mundo, correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora
E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo



Cotidiano

Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Na sequência, houve um diálogo sobre as  músicas e seu poder de transformar o cotidiano insípido em poesia (averiguado nas interpretações do grupo). E com todo licença seu Drummond: possibilitar que uma flor rompa o asfalto! E ainda bater um papo sobre livros. Livros que estamos lendo, livros lidos nas férias e outros que gostaríamos de mostrar num exercício de liberdade, pois os livros nos ensinam a pensar. Na verdade, eu acredito que depois do prazer de possuir livros, não há nada mais doce do que falar deles.





De igual modo, ampliamos o exercício para arejarmos a alma com poesia. Dispus de várias obras poéticas espalhadas sobre a mesa, além de tantas outras poesias impressas retiradas dos livros. Efetuamos declamações dos poemas e leitura dinâmica, jograis e também buscando poesias que pareciam dialogar entre si. Enfim, foi maravilhoso participar destes momentos artísticos o grupo, e gozar por meio desta forma de linguagem que transcende a estética e ecoa na alma.





Esta atividade ainda incluiu comentarmos as nossas sensações geradas ao entrarmos em contato com a poesia. Após comentários, o integrante do grupo escolhia uma nova poesia impressa e fazia este mesmo exercício, só que anotando suas palavras num papel sulfite, colava sua poesia ao lado e realiza um desenho ou uma colagem. Logo após, nos reunimos em volta de um varal que fiz anteriormente para declamarmos os poemas, revelar as anotações construídas a partir das sensações do poema e também, dialogar a respeito do poema... Se a interpretação foi outra e etc. Terminado esta etapa, o integrante estendia seu trabalho no varal. Não é sensacional? Está dinâmica (COSSON, 2006, p.133) nos permite um espaço de divulgação permanente das leituras feitas pelas pessoas e pode conter tanto o resultado da leitura quanto simplesmente um texto lido para que haja um compartilhamento com o conjunto da turma ou comunidade escolar. Abaixo algumas fotos.








 
Posteriormente o varal foi transferido para a sala dos professores para exposição.





O processo de leitura literária possibilita essa operação maravilhosa que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado dentro de nossa cabeça e do nosso coração. Surge desta articulação múltiplas leituras de mundo, característica da plurissignificação do texto artístico. Neste sentido, vivenciamos na prática a teoria da leitura fruitiva, tão presente em nossos ideais para melhor instigar a formação de leitores integrais na escola. 


Para fechar com chave de ouro está reunião do clube do livro, efetuamos leitura dos capítulos 07 e 08 da obra “Como um Romance” de Daniel Pennac que o grupo está lendo. Gerando muita discussão sobre as nossas vivencias e relações que possuímos com os livros. A leitura questiona, e nós enquanto educadores temos cada vez mais preocupação em entender metodologias para melhor aproveitamento estético da literatura a fim de expandir nossos limites enquanto leitores. Tarefa que exige rompimento da nossa zona de conforto, pois “na leitura, é preciso imaginar tudo isso... A leitura é um ato de criação permanente” (PENNAC, 2011, p 24). Portanto, a literatura nos coloca no deserto que existe dentro de nós, descortinando estados e sensações que promovem a expressão crítico/reflexiva. Diferente da passividade que impera nas mídias pré-congeladas da massa, como a televisão ou livros de entretenimento/autoajuda.
 

  Professor Bruno Lazzarotto Farias.



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