O limão
Agora
preste atenção:
Se
a vida for um limão
Em
um copo de água
Natural,
fria ou gelada,
Ponha
açúcar a gosto
Para
não ter desgosto
E
sinta a vida mudada,
De
limão para limonada.
Autor:
Sérgio Capparelli
Com o intuito de otimizar
nossas vivencias poéticas, reforçar a aproximação do grupo no poema literário e
integrar as relações de maneira divertida, pensou-se nas seguintes intervenções.
Primeiramente efetuou-se
uma “tempestade de versos” onde líamos poemas ao gosto e por vezes fazíamos
movimentos verso a verso, leitura dramatizada e cantávamos (principalmente na
obra de Vinicius de Morais “A Arca de Noé”). Estamos conhecendo e ampliando
todo o horizonte que essas obras nos têm proporcionado. Na sequência,
dividiram-se as turmas por assunto. Então, determinada turma se deleitava com
um livro do Sergio Capparelli só com poesia que tenham a ver com frutas
(“Poesia de Bicicleta” nos permite isso: são vários temas divididos dentro da
obra) outros com flores e assim por adiante. Líamos e conversávamos sobre as
poesias, sobre as sensações que elas nos proporcionavam, sobretudo do gostinho
das frutas, dos cheiros das flores, da sensação de ver o mar ou tocar numa
pedra, estimulando essa articulação entre corpo e mente. É o sentido estético percebendo a forma das coisas, apreendendo a forma
específica de cada evento, sua natureza à mostra em sua face.
Depois, numa folha
colávamos um poema impresso e procurávamos criar adjunto ao poema, um desenho a
partir dessa troca de apreciações individuais sobre cada texto. E foi uma
festa! Usou-se muito material de arte. O destaque foi o “glitter”. Mexíamos com
as mãos no glitter, tinta e colas coloridas, concordamos com aquela marca que
tem como slogan “se sujar faz bem”! Uma felicidade que compensa e que mexe com
o nosso corpo, estendendo os cinco sentidos e a criatividade. Assim, tocados
pela magia, as crianças voltaram para suas casas no final do dia de escola,
cheios de confiança em si, e mesmo felizes, para ser preciso. Exibindo suas
manchas de tinta como condecorações (de acordo com o senhor, né seu PENNAC, 2011,
p. 40).
Em algumas turmas,
resolvemos logo expor num mural para espalhar poesia pela escola. E numa
tentativa de aumentar a oferta, fixamos uma caixinha mágica ao lado do mural.
Para que conseqüentemente, o apreciador pudesse ler um desses poemas para casa.
Compartilhamos nossas leituras. Compartilhamos alegrias. Confiram as fotos:
Figura: Alunos em produção. Fonte: Pessoal. |
Figura: Mural em produção. Fonte: Pessoal. |
Figura: Nossos mural e a caixinha do poeta! Fonte: Pessoal. |
Figura: Profe Fran e o mural... Fonte: Pessoal. |
Figura: Mural visualizado próxima à entrada do colégio. Fonte: Pessoal. |
Figura: Detalhe da caixa do poeta... Fonte: Pessoal. |
Figura: O mural. Fonte: Pessoal. |
Figura: A galeria posando para a foto! Fonte: Pessoal. |
Figura: Galerinha com o mural. Fonte: Pessoal. |
Figura: As turminhas comigo, a profe Claudinha e profe Fran. Fonte: Pessoal. |
Figura: Que alegria todos juntos! Fonte: Pessoal. |
Outro caminho traçado que
essas atividades poéticas nos proporcionaram foi a “dinâmica do barbante”.
Pensada para vir de encontro com a literatura, uma vez que oral ou escrita, sempre
é uma oferta de espaço, confabulou-se com a fala de PETIT (2009, p. 69):
“As palavras não cansam de revelar paisagens, passagens, “como se a sua
essência fosse bem mais espacial do que verbal, como se o seu fundamento
geográfico formasse o seu alicerce de sentido”, escreve Georges-Arthur
Goldschmidt. Antes de tudo, é talvez um espaço que é encontrado nas palavras
lidas, de modo vital, ainda mais para quem não dispõe de nenhum lugar, nenhum
território pessoal, nenhuma margem de manobra, como os que participaram das
experiências que surgem”.
Assim, formou-se com as crianças um grande
círculo de mãos dadas e, em seguida, nos unimos com o cordão. Cada qual
segurava uma parte de modo a estarmos mais integrados. Depois, cortou-se o
pedaço que cada qual segurava para si e sugeriu-se que brincasse com o seu
pedacinho de linha.
Balançando o barbante no
ar ou tentando dar forma com ele, as crianças foram chamadas a perceberem sua
textura, versatilidade e flexibilidade. Na sequência, sentamos como “indiozinhos”
no chão e declamamos alguns poemas, após isso o desafio foi feito: criar no
chão um desenho com seu naco de linha.
Prontas às obras, a turma
analisava figura por figura (e sem perceberem, acabaram de alguma forma
realizando um desenho sobre algum elemento da poesia deles). Comentários e
interpretações foram bem-vindos. Seria aí uma resposta estética? Acredito que
sim e, sobretudo, para mim, uma avaliação de minha atuação que procuro
fomentar.
Talvez tenhamos
conseguido adentrar o coração de nossas crianças por meio da poesia. E essa
ligação entre coração e os sentidos não é um simples ato mecânico, mas sim
estético. Ou seja, “essa reação estética que precede a curiosidade intelectual
inspira o que é dado para além de si mesmo, deixando cada coisa revelar sua
aspiração específica dentro de um arranjo cósmico”. (HILLMAN, 2010 p. 49).
Figura: Atividade da linha com a turminha da pofe Tati. Fonte: Pessoal. |
Figura: Atividade da linha com a turminha da pofe Tati. Fonte: Pessoal. |
Figura: Turminha construindo. Fonte: Pessoal. |
Figura: A piscina... Fonte: Pessoal. |
Figura: Crianças se divertem na piscina... Fonte: Pessoal. |
Bem, voltando à
atividade. Percorremos toda a exposição, logo após desfazemos a criação
individual e amarramos as pontas do barbante com ao dos vizinhos. Reatamos os
nós. Voltamos ao início? Mas agora tinha algo de diferente no corpo da linha. E
logo veio a próxima provocação: as crianças deveriam criar sem a ajuda dos
mediadores uma única figura.
Foi muito interessante
observar as crianças escolhendo juntas quais formas deveriam dar para aquela
linha. Surgiram várias idéias e todos os alunos tentavam se comunicar de modo a
convencer pela retórica seus colegas que tinham outras ideias... Uns procuravam
argumentos, outros ficavam chateados, ameaçavam abandonar a situação e, às
vezes, cumpriram a palavra. O mediador sempre atento ao comportamento da turma,
mas em nenhum momento intervindo na tomada de decisões deles. Sendo muito
produtivo, pois se abandonou à posição de coordenador e deixou o grupo resolver
seus impasses, ainda que algumas soluções encontradas não fossem, em sua
opinião, a melhor.
E quanta surpresa! Como
as crianças não conseguiram alcançar um consenso de construção individual com a
linha, decidiram por fim, fazer uma piscina! Pois, assim poderiam todos desfrutar
da mesma, nadando e se divertindo muito no fim das contas! Ou em outra turma,
por exemplo, decidiram fazer uma casa bem grande para que todos morassem
dentro... Terminamos a brincadeira cantando alguma poesia de Vinicius de Moraes
e, por conseguinte, sugeriu-se que colassem num papel a construção individual
(primeiro desenho) e em volta pintasse a construção coletiva.
Chegamos à conclusão de que por meio desse jogo, as crianças realizaram tomadas de consciência de seu potencial criativo, se familiarizaram com as atividades em equipe e desenvolveram percepção do espaço e de seu corpo.
Abaixo, fotos que capturam alguns desses momentos:
Chegamos à conclusão de que por meio desse jogo, as crianças realizaram tomadas de consciência de seu potencial criativo, se familiarizaram com as atividades em equipe e desenvolveram percepção do espaço e de seu corpo.
Abaixo, fotos que capturam alguns desses momentos:
Utilizei está atividade
também para demonstrar de forma prática aos docentes a teoria de Rubem Alves, da qual busco me espelhar,
acerca da necessidade do professor ser um sujeito “provocador” e “sedutor” na
construção do saber. E elucidar a minha fala de que se tratando de arte, temos
que tomar o cuidado de não fazer as coisas para o indivíduo, não lermos as
interpretações sobre uma obra artística num primeiro momento para ele (estipulando logo de cara uma "verdade"), pois cada um constrói dentro de
si a sua identidade e expressão. Isso é desenvolver a autonomia, mediados pela arte. A seguir, o vídeo
do Rubem Alves, e faça suas conclusões, é imperdível! :-)
Professor Bruno Lazzarotto Farias
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