domingo, 1 de setembro de 2013

A linha tênue que nos une: confluências poéticas

O limão
Agora preste atenção:
Se a vida for um limão

Em um copo de água
Natural, fria ou gelada,

Ponha açúcar a gosto
Para não ter desgosto

E sinta a vida mudada,
De limão para limonada.
Autor: Sérgio Capparelli

Com o intuito de otimizar nossas vivencias poéticas, reforçar a aproximação do grupo no poema literário e integrar as relações de maneira divertida, pensou-se nas seguintes intervenções.
Primeiramente efetuou-se uma “tempestade de versos” onde líamos poemas ao gosto e por vezes fazíamos movimentos verso a verso, leitura dramatizada e cantávamos (principalmente na obra de Vinicius de Morais “A Arca de Noé”). Estamos conhecendo e ampliando todo o horizonte que essas obras nos têm proporcionado. Na sequência, dividiram-se as turmas por assunto. Então, determinada turma se deleitava com um livro do Sergio Capparelli só com poesia que tenham a ver com frutas (“Poesia de Bicicleta” nos permite isso: são vários temas divididos dentro da obra) outros com flores e assim por adiante. Líamos e conversávamos sobre as poesias, sobre as sensações que elas nos proporcionavam, sobretudo do gostinho das frutas, dos cheiros das flores, da sensação de ver o mar ou tocar numa pedra, estimulando essa articulação entre corpo e mente. É o sentido estético percebendo a forma das coisas, apreendendo a forma específica de cada evento, sua natureza à mostra em sua face.
Depois, numa folha colávamos um poema impresso e procurávamos criar adjunto ao poema, um desenho a partir dessa troca de apreciações individuais sobre cada texto. E foi uma festa! Usou-se muito material de arte. O destaque foi o “glitter”. Mexíamos com as mãos no glitter, tinta e colas coloridas, concordamos com aquela marca que tem como slogan “se sujar faz bem”! Uma felicidade que compensa e que mexe com o nosso corpo, estendendo os cinco sentidos e a criatividade. Assim, tocados pela magia, as crianças voltaram para suas casas no final do dia de escola, cheios de confiança em si, e mesmo felizes, para ser preciso. Exibindo suas manchas de tinta como condecorações (de acordo com o senhor, né seu PENNAC, 2011, p. 40).
Em algumas turmas, resolvemos logo expor num mural para espalhar poesia pela escola. E numa tentativa de aumentar a oferta, fixamos uma caixinha mágica ao lado do mural. Para que conseqüentemente, o apreciador pudesse ler um desses poemas para casa. Compartilhamos nossas leituras. Compartilhamos alegrias. Confiram as fotos:


Figura: Alunos em produção.                      Fonte: Pessoal.

Figura: Mural em produção.                                                           Fonte: Pessoal.

Figura: Nossos mural e a caixinha do poeta!                            Fonte: Pessoal.

Figura: Profe Fran e o mural...                                                       Fonte: Pessoal.

Figura: Mural visualizado próxima à entrada do colégio.       Fonte: Pessoal.

Figura: Detalhe da caixa do poeta...                                            Fonte: Pessoal.

Figura: O mural.                                                                           Fonte: Pessoal.
Figura: A galeria posando para a foto!                                     Fonte: Pessoal.

Figura: Galerinha com o mural.                                                    Fonte: Pessoal.

Figura: As turminhas comigo, a profe Claudinha e profe Fran.  Fonte: Pessoal.

Figura: Que alegria todos juntos!                                               Fonte: Pessoal.



Outro caminho traçado que essas atividades poéticas nos proporcionaram foi a “dinâmica do barbante”. Pensada para vir de encontro com a literatura, uma vez que oral ou escrita, sempre é uma oferta de espaço, confabulou-se com a fala de PETIT (2009, p. 69):

“As palavras não cansam de revelar paisagens, passagens, “como se a sua essência fosse bem mais espacial do que verbal, como se o seu fundamento geográfico formasse o seu alicerce de sentido”, escreve Georges-Arthur Goldschmidt. Antes de tudo, é talvez um espaço que é encontrado nas palavras lidas, de modo vital, ainda mais para quem não dispõe de nenhum lugar, nenhum território pessoal, nenhuma margem de manobra, como os que participaram das experiências que surgem”.

 Assim, formou-se com as crianças um grande círculo de mãos dadas e, em seguida, nos unimos com o cordão. Cada qual segurava uma parte de modo a estarmos mais integrados. Depois, cortou-se o pedaço que cada qual segurava para si e sugeriu-se que brincasse com o seu pedacinho de linha.
Balançando o barbante no ar ou tentando dar forma com ele, as crianças foram chamadas a perceberem sua textura, versatilidade e flexibilidade. Na sequência, sentamos como “indiozinhos” no chão e declamamos alguns poemas, após isso o desafio foi feito: criar no chão um desenho com seu naco de linha.
Prontas às obras, a turma analisava figura por figura (e sem perceberem, acabaram de alguma forma realizando um desenho sobre algum elemento da poesia deles). Comentários e interpretações foram bem-vindos. Seria aí uma resposta estética? Acredito que sim e, sobretudo, para mim, uma avaliação de minha atuação que procuro fomentar.
Talvez tenhamos conseguido adentrar o coração de nossas crianças por meio da poesia. E essa ligação entre coração e os sentidos não é um simples ato mecânico, mas sim estético. Ou seja, “essa reação estética que precede a curiosidade intelectual inspira o que é dado para além de si mesmo, deixando cada coisa revelar sua aspiração específica dentro de um arranjo cósmico”. (HILLMAN, 2010 p. 49).

Figura: Atividade da linha com a turminha da pofe Tati.        Fonte: Pessoal.

Figura: Atividade da linha com a turminha da pofe Tati.        Fonte: Pessoal.

Figura: Turminha construindo.                                                Fonte: Pessoal.

Figura: A piscina...                                                                      Fonte: Pessoal.

Figura: Crianças se divertem na piscina...                                     Fonte: Pessoal.

Bem, voltando à atividade. Percorremos toda a exposição, logo após desfazemos a criação individual e amarramos as pontas do barbante com ao dos vizinhos. Reatamos os nós. Voltamos ao início? Mas agora tinha algo de diferente no corpo da linha. E logo veio a próxima provocação: as crianças deveriam criar sem a ajuda dos mediadores uma única figura.
Foi muito interessante observar as crianças escolhendo juntas quais formas deveriam dar para aquela linha. Surgiram várias idéias e todos os alunos tentavam se comunicar de modo a convencer pela retórica seus colegas que tinham outras ideias... Uns procuravam argumentos, outros ficavam chateados, ameaçavam abandonar a situação e, às vezes, cumpriram a palavra. O mediador sempre atento ao comportamento da turma, mas em nenhum momento intervindo na tomada de decisões deles. Sendo muito produtivo, pois se abandonou à posição de coordenador e deixou o grupo resolver seus impasses, ainda que algumas soluções encontradas não fossem, em sua opinião, a melhor.
E quanta surpresa! Como as crianças não conseguiram alcançar um consenso de construção individual com a linha, decidiram por fim, fazer uma piscina! Pois, assim poderiam todos desfrutar da mesma, nadando e se divertindo muito no fim das contas! Ou em outra turma, por exemplo, decidiram fazer uma casa bem grande para que todos morassem dentro... Terminamos a brincadeira cantando alguma poesia de Vinicius de Moraes e, por conseguinte, sugeriu-se que colassem num papel a construção individual (primeiro desenho) e em volta pintasse a construção coletiva.
Chegamos à conclusão de que por meio desse jogo, as crianças realizaram tomadas de consciência de seu potencial criativo, se familiarizaram com as atividades em equipe e desenvolveram percepção do espaço e de seu corpo.
Abaixo, fotos que capturam alguns desses momentos:










Utilizei está atividade também para demonstrar de forma prática aos docentes a teoria de Rubem Alves, da qual busco me espelhar, acerca da necessidade do professor ser um sujeito “provocador” e “sedutor” na construção do saber. E elucidar a minha fala de que se tratando de arte, temos que tomar o cuidado de não fazer as coisas para o indivíduo, não lermos as interpretações sobre uma obra artística num primeiro momento para ele (estipulando logo de cara uma "verdade"), pois cada um constrói dentro de si a sua identidade e expressão. Isso é desenvolver a autonomia, mediados pela arte. A seguir, o vídeo do Rubem Alves, e faça suas conclusões, é imperdível! :-)




Professor Bruno Lazzarotto Farias
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