domingo, 1 de setembro de 2013

Reunião do Clube do Livro: diálogos exitosos



“Senhoritas, não é, de modo algum, sob aspecto do vocabulário e da sintaxe que a Literatura começa a nos seduzir. Lembrai-vos simplesmente de como as letras se introduzem em nossas vidas. Na idade mais tenra, mal cessam de nos cantar a cantiga que faz o recém-nascido sorrir e adormecer, abre-se a era dos contos. A criança os bebe como bebia seu leite. Ela exige a sequência e a repetição das maravilhas; ela é um público implacável e excelente. Sabe Deus as horas que perdi em alimentar de mágicos e monstros, piratas e fadas, os pequeninos que gritavam: Mais! A seu pai fatigado.” (PENNAC, 2011, p.47).

Na noite desta última quinta-feira (29-08-2013) aconteceu um debate de alguns capítulos da obra de Pennac “Como um romance” entre os membros do Clube do Livro. Apesar do número reduzido de participantes neste dia (devido à entrega de boletins e outro compromissos, infelizmente a maioria não pode esta presente), foi produtivo e acredito que por meio dessas leituras, rompemos nossos limites enquanto leitores. Nesse sentido, denotamos uma evolução muito grande em nossa caminhada com Pennac.
 
Figura: Profe Débora e profe Tati.             Fonte: Pessoal.

Figura: Profe Cíntia.                                     Fonte: Pessoal.
 
Figura: Profe Tati, Eu e profe Cíntia.                                         Fonte: Pessoal.


Os textos deram margem para dialogarmos de modo mais filosófico, eu diria. Sobretudo porque não nos perdemos na simples contação de causos. E foram tantos os capítulos, dos 13 aos 21, que sintetizados os sentidos e as mensagens, talvez explica-se melhor se voltares a citação inicial que abre este post.
Mas para que ainda não leu, elenco abaixo algumas dessas impressões que fizemos. A pensar,

13 – Nos revela a necessidade de manter o livro vivo em seu puro encantamento. De forma simples e mágica, dando vida as palavras. Sem fatalismos, por favor: culpa da tevê. Culpa do século, etc.

14 – Na medida em que a criança cresce, a educação vai ficando mais complexa, exigindo novos olhares dos mediadores. Dos pais.
”Dar berro ou priva-lo da sobremesa não trazia a menor conseqüência. Manda-lo para a cama sem a sua história era mergulhar seu dia numa noite negra demais. Era abandona-lo sem o ter encontrado. Punição intolerável, para ele e para nós.”
Ué gente, isso tudo porque essa relação havia sido construída pelo afeto!
”O contador, em nós, estava perdendo o fôlego, prestes a passar adiante a tocha”. (Pennac, 2011, p. 35)
O Capítulo 14 revela pais desestabilizados e refutando a tarefa de educar devido ao – suposto – cotidiano maçante.

15 – “A escola veio na hora certa.” (!!!)
”Ou bem se protege sob a parte coberta da entrada ou entra logo na dança, isso varia, mas logo eles se encontram todos sentados por trás de mesas liliputianas, imobilidade e silêncio, todos movimentos do corpo forçados a domesticar somente o movimento da pena nesse corredor de teto baixo: a linha! Língua de fora, dedos canhestros e pulso pesado...”
Bem, sabemos que é por meio da escola que o homem se civiliza. E é por meio dela que se domestica. Isto inclui a ética e o aculturamento letrado (!). Vemos também, por meio das palavras de Pennac, como o corpo vai perdendo sua sensibilidade devida, muitas vezes, ao mecanicismo escolar. Daí a necessidade ao devaneio, interferindo no espaço, no sensível, com a arte (Veja o post: A linha tênue que nos une:confluências poéticas). Este capítulo revela também, a importância da alfabetização e do letramento, pois assim o sujeito adquire novas expressões, permitindo-se ampliar seu/o mundo e se/o entender melhor.

16 – Precisamos, enquanto mediadores, mudar o jeito de lidar com a literatura. A encarar, sobretudo, como uma obra de arte. Precisamos a priori deixar fruir! Depois a gente conversa sobre conceitos. (O que o leitor comum procura?) ;-)

17 – Palavra chave: ENCANTAMENTO.

18 – Vemos aqui, ficcionalmente, pais refutando o papel para a escola. O papel de acompanhante literário. Além de ficarem felizes, pois agora terão seus “quinze minutos de sossego de volta, afinal “ele estava grande, agora, podia ler sozinho, caminhar sozinho no território dos signos.” (PENNAC, 2011, p. 41.) SERÁ?

19 – “- Então, o que foi que você acabou de ler? O que é que quer dizer?”
Mais importante, num primeiro momento, é o que se sentiu ao ler uma obra literária e não tentar descobrir o que o autor quis dizer com aquilo (na maioria das vezes nem ele mesmo sabe!)
”Só que nós, “pedagogos”, somos credores apressados. Detentores do Saber, emprestamos com juros. E é preciso que isso renda. Depressa! Sem o que, é de nós mesmos que duvidamos”. (PENNAC, 2011, p. 43).
É minha gente, aqui é interessante vestirmos nosso capuchinho da humildade e refletir se é isso mesmo que fazemos. Será que tudo precisa não ser de graça? Ninguém consegue uma relação afetiva através de puras cobranças e imposições... O que você acha? Vamos conversar...

20 – Acho que isso aqui resume bem este capítulo e exemplifica o anterior: “Éramos o contador de histórias e nos tornamos contadores, simplesmente.” (PENNAC, 2011, p. 45).

21 – Volte novamente à citação que abre este artigo.

Ah, esqueci de informar que comecei a ordem dos fatores pelo inverso. Sim, antes de começarmos o debate destes capítulos, fiz uma resenha oral do (INCRÍVEL!!!) livro de Manjusha Pawagi “A menina que odiava livros” e também assistimos ao curta que foi produzido baseado nessa obra. Aproveite e veja:



Exaustos, concluímos o encontro. Mas, sentindo ser parte de uma mudança importante e transgressora, que permitiu crescermos intelectualmente. Tudo isso, somam-se esforços do colégio e suas pessoas que o constroem no seu dia-a-dia, para uma melhor educação, uma educação mais humana, voltada a entender as pessoas e estender as possibilidades de acesso do cidadão ao livro da melhor forma possível. Mantemos nossa caminhada e redescobrimos novos olhares através da leitura: “A arte interpreta o mundo e dá forma ao informe, de modo que, ao sermos educados pela arte, descobrimos facetas ignoradas dos objetos e dos seres que nos cercam”. (TODOROV, 2009, p, 65).  

E você? Já se permitiu sonhar hoje? Busque novos olhares em sua caminhada! E não se preocupe, o livro é uma ótima bengala para o auxiliá-lo(a). ;-)

Professor Bruno Lazzarotto Farias
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